De acordo com o Conselho Internacional de Museus, um museu é definido hoje como um espaço fixo, acessível ao público e sem fins lucrativos. Ele tem a função de coletar, preservar, estudar, compartilhar e exibir objetos que contam a história da humanidade e do mundo, com o objetivo de educar e orientar a sociedade.

Mas você sabia que, originalmente, o museu, ou templo das musas, tinha outra função?

A origem dos museus gregos

Na Grécia Antiga, o mouseion era um espaço sagrado dedicado ao conhecimento místico e estudo da poesia, música, oratória, história, teatro, dança e astronomia.

Como o ambiente recebia muitas oferendas, os sacerdotes analisavam e realizavam a triagem, a classificação, o controle e a segurança dos objetos doados.

E apesar das pessoas colecionarem objetos desde sempre, o primeiro museu, nos moldes de um mouseion, foi o santuário do Vale das Musas, construído no século VI a.C. Esse santuário, localizado nas encostas do Monte Helicão, na região da Beócia, era onde ocorriam os festivais de Mouseia.

Com o surgimento do monoteísmo, os festivais e o vale foram abandonados e o conceito de museu perdeu seu aspecto de iniciação aos mistérios e passou a ser usado como um grande relicário.

As salas de mistério das musas

Geralmente, um museu grego tinha o formato retangular seguindo o padrão dos templos sagrados. Numa câmara interior, era de costume haver um altar, usado como o principal espaço para cerimônias e rituais em homenagem às musas. Esse altar representava a ligação entre o mundo dos humanos e o divino, reforçando o caráter sagrado do local.

O culto às musas se dividiam em três grupos:

  • poesia épica, escrita e linguagem;
  • música, dança, poesia lírica, humor e dramaturgia;
  • mistérios celestes e os astros.

Vamos conferir agora em sequência quem eram as musas e quais o tipo de conhecimento que cada uma preservava em seu simbolismo.

Sala 01: Calíope – poesia épica

Calíope, a musa da oralidade, era considerada a mais sábia e assertiva entre as musas, segundo Hesíodo. Entre seus filhos, destacam-se Orfeu e Linus, a quem ela ensinou versos para cantar. Casada com Oeagro, Calíope desempenhou um papel importante na mitologia grega.

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De acordo com Ovídio, em uma disputa de canto, Calíope derrotou as filhas de Pierus, rei da Tessália, e, como punição por sua arrogância, transformou-as em aves tagarelas.

É amplamente acreditado que Calíope foi a musa que inspirou Homero na criação da Ilíada e da Odisseia. Da mesma forma, o poeta romano Virgílio invocou sua inspiração para compor a Eneida.

Por meio de Calíope, as histórias da Odisseia, Ilíada e Eneida eram transmitidas aos intelectuais da época, que repassavam esses conhecimentos oralmente ao povo, assegurando que essas narrativas fossem preservadas ao longo das gerações.

Sala 02: Clio – história

Agora vamos falar de Clio, a musa da história, cujo nome significa “Proclamadora”. Ela é considerada a grande inspiradora dos historiadores.

De acordo com o mito de Jacinto, Clio foi mãe do jovem junto com o mortal Piero. Conta-se que Afrodite, irritada com Clio por criticar seu romance com Adônis, a fez se apaixonar por um mortal como forma de vingança.

Clio também era vista como a musa da eloquência, sendo associada à manutenção das relações políticas entre povos e nações. Suas representações geralmente mostram-na segurando dois objetos simbólicos: uma trombeta na mão esquerda e um livro de Tucídides na direita.

O livro simboliza a escrita da história e a importância de registrar os feitos do passado, enquanto a trombeta representa a divulgação desses acontecimentos, garantindo que eles se tornem conhecidos e lembrados.

Curiosamente, um dos nove livros de Heródoto, conhecido como o “Pai da História”, leva o nome de Clio, em homenagem à sua conexão com o registro e a preservação dos eventos históricos.

Sala 03: Polímnia – mímica

Agora vamos falar de Polímnia, a musa da mímica, que representava a reprodução simples de música, poesia, encenação e canto.

Seu nome vem do grego, onde “poli” significa “muitos” e “hymnos” significa “louvor”. Seu principal simbolismo está ligado à capacidade de imitar ou reproduzir as ações divinas.

Polímnia é frequentemente retratada como uma figura séria e pensativa. Em muitas representações, aparece com um dedo nos lábios ou apontando para o céu, vestida com um longo manto e véu, frequentemente apoiada em um pilar.

Além disso, Polímnia também é associada à geometria sagrada e às artes que hoje entendemos como ligadas às ciências exatas.

Sala 04: Euterpe – instrumentos musicais

Enquanto Polímnia estava ligada à reprodução simples de artes divinas, como a música, a sala de Euterpe era dedicada à iniciação musical, ensinando o uso de instrumentos e técnicas de vocalização.

Euterpe vivia no Monte Olimpo com as outras musas, auxiliando seu pai, Zeus, e os demais deuses com seus mistérios. Durante suas viagens entre o Olimpo e o Monte Parnaso, destino de poetas e artistas, Euterpe soprava cascas de oliveira para se comunicar com Éolo, o deus dos ventos, que então soprava o caminho certo para ela seguir.

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Segundo a mitologia, dessa parceria entre Euterpe e Éolo surgiu o primeiro instrumento de sopro, o aulo, uma espécie de flauta dupla antiga. Euterpe é frequentemente representada em obras de arte segurando uma flauta, símbolo de sua ligação com a música.

Sala 05: Terpsícore – dança

Os mouseion geralmente tinham um espaço dedicado à dança, muitas vezes localizado nos jardins ao redor do templo, e era Terpsícore, a musa da dança, quem inspirava essas atividades. Seu nome, aliás, significa “deleite em dançar”.

A dança sagrada era considerada uma das formas mais intensas de conexão com os deuses do Olimpo, mas precisava estar em harmonia com as vocalizações e a música, refletindo a ideia de uma evolução entre as artes.

Curiosidade: Terpsícore é mencionada no prólogo da ópera Il Pastor Fido, de Handel, um grande compositor barroco. Se ainda não conhece, vale a pena assistir ou só ouvir!

Sala 06: Erato – poesia lírica

Seguindo o tema da dança, temos Erato, cujo nome significa “a adorável”, associada à adoração.

Se a dança representava o movimento das almas, era por meio dos textos de Erato que a poesia ganhava vida e fluidez. Ela era a musa das artes sagradas, responsável pelos textos cheios de significado, que traziam interpretações profundas, descobertas, revelações e conhecimentos ocultos.

No Hino Órfico às Musas, é Erato quem encanta a visão. Desde a Renascença, ela é frequentemente representada com uma coroa de murta e rosas, segurando uma lira ou uma pequena kithara, instrumento associado ao deus Apolo. Em algumas representações, aparece acompanhada por Eros, o deus do amor, que carrega uma tocha.

Sala 07: Melpômene – tragédia

Melpômene era a musa que representava o lado oculto do ser humano. Seu nome está ligado a algo melodioso ou a celebrações musicais.

Ela simbolizava a ascensão e a queda, o conhecimento erudito, os vícios e as virtudes humanas. Suas histórias e lições eram frequentemente cantadas em coro.

Melpômene é associada à intensidade e à entrega completa. Ela é geralmente retratada com uma máscara trágica e usando cothurnus, botas altas tradicionais dos atores de tragédias. Muitas vezes, segura uma faca ou um porrete em uma mão e a máscara trágica na outra.

Desde a poesia grega e latina, como nas obras de Horácio, invocar Melpômene era visto como um ato de coragem.

Segundo o mito, Melpômene começa seu dia com gargalhadas, mas termina ao anoitecer em lágrimas, simbolizando a dualidade da tragédia humana.

Sala 08: Tália – comédia

Agora chegamos a Tália, a musa da comédia.

Enquanto Melpômene simbolizava a tragédia e a queda, Tália representava o oposto: a superação e a renovação. Sempre associada à luz do sol, ela simbolizava o recomeço.

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Seu nome, que em grego significa “aquela que floresce”, remete ao desabrochar de uma flor após dias nublados. Tália representa a esperança, a leveza e a capacidade de olhar para trás com um sorriso, sabendo que tempos melhores virão.

Ela era a musa da comédia e da poesia bucólica, além de estar ligada ao conhecimento sobre a agricultura e o plantio. Por isso, também era um símbolo da primavera e da renovação.

Geralmente, Tália era retratada como uma jovem sorridente, usando uma coroa solar, botas e segurando uma máscara cômica. Algumas de suas estátuas também a mostram com um clarim ou trompete, que ajudavam a projetar a voz dos atores em peças de comédia antigas. Em outras versões, aparece segurando um cajado de pastor ou uma coroa de hera.

Segundo a mitologia grega, Tália chorava ao anoitecer, mas acordava ao amanhecer com um sorriso radiante, cheia de alegria.

Depois de conhecer sua história, você nunca mais verá as peças teatrais gregas da mesma forma, certo? Mas isso é assunto para outro artigo.

Sala 09: Urânia – astronomia

Por fim, falamos de Urânia, a musa do cosmos, considerada a mais importante para os gregos antigos, já que sua devoção era diretamente ligada às decisões mais importantes da sociedade, como a melhor época para plantar e outras questões essenciais para a sobrevivência coletiva.

O nome Urânia significa “celestial”. Ela representava a habilidade de interpretar os astros, simbolizava o amor universal e tudo aquilo que vai além da compreensão humana.

Ela é retratada vestindo uma capa bordada com estrelas, sempre olhando para o céu, segurando um globo celestial e apontando para ele com um pequeno bastão.

Assim encerramentos este artigo sobre os museus antigos, os templos sagrados dedicados às filhas de Zeus.

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