Ao longo da história, as pessoas usaram veneno de várias maneiras: para matar, combater pragas, tirar a própria vida ou até como forma de punição.

O veneno pode ser engolido, como aconteceu com Sócrates, que foi condenado a beber cicuta. Ele também pode ser inalado, injetado ou usado para deixar armas mais perigosas, como na guerra da pólvora.

Neste texto, vamos falar mais sobre o tema e explorar outros tipos de veneno, além dos físicos.

Vênus: ela é toda venenosa

A palavra “veneno” vem de Vênus, a deusa romana do amor (ou Afrodite, para os gregos). O nome “Vênus” tem origem em “wenos”, que significa “desejo” em proto-itálico, uma língua muito antiga.

Vênus era associada ao amor e à sexualidade, sendo uma das deusas mais importantes para os romanos. Na mitologia, Vênus era casada com Vulcano, o deus do fogo, mas tinha um caso com Marte, o deus da guerra. Com Marte, teve um filho famoso: Cupido. Seu culto era muito popular, especialmente em Chipre.

Diz a lenda que Vênus nasceu da espuma do mar, simbolizando o princípio feminino, delicado e aquoso, essencial para criar e equilibrar a vida. Enquanto Vulcano e Marte representavam forças masculinas e enérgicas, Vênus trazia harmonia, unindo opostos através do amor.

Vênus era adorada como uma deusa do amor, da prosperidade e até da sorte. Em algumas histórias, era protetora das prostitutas, mas também ajudava as pessoas a superar seus vícios e buscar virtude. No geral, era vista como uma divindade bondosa e acolhedora..

Os veneráveis festivais de Vênus

O termo “venerável”, que também tem origem na deusa Vênus, era usado para descrever algo ou alguém encantador, desejável ou digno de admiração. Inicialmente, tinha uma conotação puramente sexual, mas esse significado foi se perdendo ao longo do tempo.

Os “veneráveis” também eram festivais dedicados à deusa romana do amor e da beleza, que poderiam ser comparados, de forma moderna, a grandes festas populares.

INDICADO:   O que é iniciação? O que faz de alguém um iniciado?

Havia três festivais principais em homenagem a Vênus, todos financiados pelo Estado Romano: a Veneralia, a Vinalia Urbana e a Vinalia Rustica.

Veneralia – 1º de abril

A maior das festividades dedicadas a Vênus tinha rituais grandiosos. Durante a celebração, uma imagem da deusa era retirada de seus templos e levada aos balneários públicos. Lá, ela era despida e lavada em água morna por suas virgens vestais, sendo depois adornada com uma guirlanda de murta – uma planta afrodisíaca que simbolizava Vênus.

O evento era marcado por demonstrações públicas de afeto: beijos, abraços, novos romances surgindo e outros se desfazendo. Era um festival que celebrava a liberdade e os desejos humanos, tudo de forma institucionalizada e festiva.

Vinalia Urbana – 23 de abril

Como se a Veneralia já não fosse intensa o suficiente, os mais resistentes ainda tinham a Vinalia Urbana, um festival dedicado ao vinho, compartilhado entre Vênus e Júpiter (Zeus, para os gregos). Nesse contexto, Vênus era considerada a matrona do vinho “profano”, destinado ao uso cotidiano dos humanos, enquanto Júpiter era o patrono do vinho mais forte e sagrado, ligado às cerimônias religiosas e às colheitas, já que ele controlava o clima essencial para o cultivo das uvas.

Durante o festival, as sacerdotisas que serviam no templo de Vênus deixavam suas vestes cerimoniais de lado. Essa prática deu origem ao termo “prostituta”, derivado da ideia de se “prostrarem” em oferenda à deusa. A celebração incluía rituais regados a muito vinho e era marcada pela expressão livre dos desejos humanos, combinando devoção religiosa e celebração da vida.

Vinalia Rustica – 19 de agosto

Embora fosse o mais antigo dos festivais de Vênus, este era certamente o mais peculiar. A festa principal acontecia em agosto e era totalmente dedicada à fertilidade – tanto dos campos quanto do corpo. O objetivo era garantir fartura, e ninguém saía dessa celebração “de barriga vazia”. Para isso, rituais curiosos faziam parte da programação, incluindo sacrifícios de cordeiros entre as festividades.

O festival era alvo de críticas por parte de alguns cidadãos romanos, especialmente devido ao alto número de gravidezes que aconteciam após o evento. Curiosamente, um dos legados mais duradouros de Vênus pode ter sido o nome dado às doenças venéreas – as famosas “doenças de Vênus”.

A Encrenca do Cancro

Avançando na linha do tempo, chegamos ao início do século XX, no Rio de Janeiro, entre as duas Grandes Guerras. Na época, a região do Mangue era famosa como ponto de encontro para homens, especialmente marinheiros, que buscavam diversão com prostitutas.

INDICADO:   O que é iniciação? O que faz de alguém um iniciado?

O problema era a comunicação. Muitas dessas mulheres eram imigrantes polonesas e mal falavam português. Para alertar os clientes desavisados, diziam: “Ich habe ein Kranke”. Caso o polonês do interlocutor não fosse dos melhores, essa frase significava que elas tinham cancro, uma doença venérea muito comum na época.

Daí nasceu a expressão “encrenca”. As prostitutas que carregavam a doença eram chamadas de “encrencadas”. Com o tempo, a palavra perdeu sua relação direta com problemas de saúde física e passou a ser usada para descrever qualquer situação complicada ou problemática – até mesmo questões emocionais ou mentais, como:

  • Perdi meu namorado, estou encrencada no amor
  • Perdi o emprego, estou encrencado nas finanças
  • Perdi muito sangue, estou encrencado na saúde

São apenas alguns exemplos grosseiros, mas permitem ilustrar a relação entre o envenenamento mental que uma “encrenca” pode causar.

Assim como no aspecto físico tratamos de nossa saúde, também precisamos manter a sanidade mental. Evitar o envenenamento mental é isso: entender a psicologia das reações mentais e contragolpear as adversidades com o antídoto ideal para a ocasião.

Processos estranhos da mente humana

Estudos clínicos sobre hipnose mostram que, quando uma pessoa está em estado de transe e confia na experiência, ela pode ser levada a acreditar que uma banana tem gosto de laranja, ou algo semelhante. Isso acontece porque nosso cérebro tem o poder de transformar crenças em experiências sensoriais reais.

Nem sempre o “ver para crer” funciona. Nosso cérebro pode nos enganar, e muitas vezes somos influenciados por ilusões criadas por ele. Quando acreditamos em algo sem questionar, nosso corpo age como se isso fosse uma verdade absoluta. Por exemplo, se acreditarmos que estamos saboreando uma laranja, nosso cérebro pode criar a sensação do gosto e até o cheiro, mesmo que isso não corresponda à realidade.

Uma ideia que nos seja aceitável consegue passar de um processo mental para o físico, do físico para o mental, isso está além de nosso controle. É um processo estranho da mente humana. Esse é o princípio do envenenamento mental.

O antídoto contra o envenenamento mental

Costumo dizer que superstição é fazer algo sem entender o motivo por trás. Toda superstição tem origem em algum contexto cultural, mas muitas vezes perde o sentido devido à falta de conhecimento ou ao afastamento de seu significado original.

INDICADO:   O que é iniciação? O que faz de alguém um iniciado?

Pessoas com pensamentos simplistas tendem a atribuir causas sobrenaturais a situações triviais da vida, em vez de buscar explicações naturais. Mesmo quando a ciência prova o contrário, essas pessoas frequentemente rejeitam as evidências, acusando os cientistas de ignorância ou preconceito, enquanto se colocam como portadoras da “verdadeira razão”.

Essas mesmas pessoas costumam acreditar que seus problemas têm causas vagas ou psíquicas, sem perceber que muitas vezes são consequências de sua própria ignorância, indiferença ou interferência nos processos naturais. Por exemplo, pode ser mais confortável pensar que um resfriado com dor no peito é causado por algo além do seu controle, em vez de aceitar que foi resultado de automedicação ou descuido.

Essa postura abre espaço para ideias confusas e mal fundamentadas, que fertilizam o solo da mente e a tornam mais suscetível ao chamado “envenenamento mental”. Por isso, é importante cultivar bons hábitos. Ser cético, questionar e buscar conhecimento pode ajudar a evitar muitas armadilhas.

Devemos também cuidar de nossos pensamentos, gestos, ações e palavras. A mente humana é incrivelmente sensível, mais até do que o microfone mais sofisticado.

Por fim, tente ouvir sua consciência. Ela sempre fala com você, mas muitas vezes acabamos ignorando-a. Aprender a escutá-la é um passo essencial para manter sua mente clara e equilibrada.

Conclusão

Podemos concluir que o verdadeiro antídoto para o envenenamento mental é silenciar o barulho do mundo exterior e escutar mais a voz do nosso interior.

“Podemos escolher o que plantar, mas somos obrigados a colher o que semeamos.”

Provérbio chinês
Visão geral de privacidade

Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.