No começo do século XVI, muitos alemães não estavam felizes com os caminhos que a Igreja Católica em Roma estava percorrendo. Algumas pessoas que faziam parte de grupos secretos se juntaram com movimentos religiosos para lutar contra o poder do Papa. Isso foi chamado de Reforma Protestante.

Mas como tudo começou? Entenda a conexão entre a Reforma Protestante na Alemanha, o esoterismo cristão e as bases do pensamento Rosacruz. Confira tudo nas entrelinhas:

Mestre Eckhart: inimigo público nº1 do papa

Uma das mentes mais fecundas de seu tempo e inspirou muito da ação posterior que viria acontecer em solo alemão foi Johannes Eckhart (1260-1327), mais conhecido como Mestre Eckhart.

Mestre Eckhart foi um teólogo, amante da filosofia e célebre membro da ordem dos dominicanos.

Até hoje seus sermões são estudados e ainda costumam gerar polêmica. Imagine então no passado, com a poderosa Igreja caçando qualquer pensador que ousasse refletir algo além de sua imposição.

Em suas mensagens, paradoxais e repletas de esoterismo, ele apresentou e ensinou uma espécie de reflexão místico-panteísta, o que gerou a si mesmo a acusação de heresia.

Suas obras enfureceram tanto a Igreja de Roma que foram condenadas diretamente pelo papa João XXII.

Ele chegou a ser julgado pela Inquisição, mas sua morte ocorreu por vias naturais, antes mesmo de receber o veredito.

Grande parte das polêmicas sobre o Mestre Eckhart envolviam sua suposta autoria da obra Theologia Germanica, considerada umas das principais influências da reforma protestante.

Apesar de seu julgamento e da provável condenação que ocorreria pela inquisição ter afetado seu status e sua reputação, os estudantes dos ensinamentos de Eckhart, tais como o beato Henrique Suso e Johann Tauler continuaram a difundir sua obra e o seu pensamento dentro da Igreja, com reconhecida influência.

Ele foi citado com reverência recentemente pelos papas João Paulo II e Joseph Ratzinger.

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Nicolau de Cusa: o último dos medievais

Depois da influência do Mestre Eckhart, foi Nicolau de Cusa (1401-1464) o último grande nome do misticismo alemão medieval.

Nicolau ficou conhecido por importar ideias de escolas antigas, como o neoplatonismo. Sua mentalidade era pautada no conceito de cooperação: o objetivo de alcançar a mais ampla unidade possível como meio para a humanidade se elevar.

Ele se tornou cardeal e representante pessoal do papa em Constantinopla, com poderes sobre assuntos de fé católica e para a decisão de assuntos eclesiásticos.

Antes mesmo de Nicolau Copérnico e Galileu Galilei, Nicolau de Cusa já afirmava que a Terra girava em torno do Sol.

Em Die Visione Dei (1454), ele compara a visão do altíssimo ao de um rosto numa pintura onde não importasse o ângulo, sempre estaria por olhar para quem estivesse observando a obra.

Johaness Reuchlin: muito judaísmo e pouca paciência!

Foi Johaness Reuchlin (1455-1522) quem pegou estas influências, colocou num caldeirão e acrescentou uma bela pitada de judaísmo.

Reuchlin foi professor de grego e hebraico e um dos maiores especialistas alemães em cabalá.

Ele teve a honra de beber na fonte do erudito Giovanni Pico della Mirandola e dos rabinos Obadiah ben Jacob Sforno e Jacob Loans.

Reuchlin também estudou a fundo a obra de Joseph ben Abraham Gitakilla, considerado o maior cabalista espanhol de todos os tempos, cujos escritos influenciaram Moshe ben Shem-Tov (Moisés de Leão, que para muitos é verdadeiro autor do Zohar).

Mas a proximidade de Reuchlin com o judaísmo e a influência que sua obra teve dentro da sociedade alemã preocupou os mais fanáticos, principalmente Johannes Pfefferkorn, uma pessoa nascida judia, convertida e perseguidora dos judeus.

Foi a mando do pouco paciente Pfefferkorn que aconteceu uma grande perseguição ao Reuchlin e seus estudos. Essa pressão católica, em contrapartida, fez com que os ensinamentos de Reuchlin encontrasse abrigo nas ordens secretas.

Heinrich Cornelius Agrippa von Nettesheim: o cabalista cristão

Heinrich Cornelius Agrippa (1486-1535) foi um influente escritor do esoterismo da Renascença, talvez o maior nome da corrente do cristianismo hermético.

Como estava imerso dentro do mundo iniciático, foi influenciado diretamente pelos materiais de Reuchlin.

Agrippa se interessava por teurgia, cabalá, medicina, linguagem, leis, alquimia, astrologia e por mais práticas que viriam a público nos movimentos rosacrucianos mais para o futuro.

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Heinrich Cornelius Agrippa ficou muito popular por conta de sua defesa da magia, não como uma feitiçaria conforme imagina estupidamente a crendice popular até os dias de hoje, mas como a manifestação da sabedoria (seguindo o mesmo princípio do mago dentro do zoroastrismo).

Ele passou grande parte de sua vida a serviço dos imperadores sacro-romanos Maximiliano I e Carlos V, além de ter sido médico na corte da rainha Luísa de Savóia.

Mas a sua erudição e a liberdade de divulgar seus estudos livremente entre reinos acabou por gerar problemas com a Igreja de Roma e com o Rei Francisco I, que o prendeu em Lyon. Pouco depois de sua libertação, Agrippa morreu na miséria.

Paracelso: o imparável

Praticamente no mesmo período de Agrippa, outra figura que causou bastante incômodo no stablishment alemão foi Theophrastus Bombastus Von Hohenheim, mais conhecido como Paracelso (1493-1541).

Paracelso foi médico, alquimista, físico, astrólogo, ocultista, descobridor do zinco e fundador da Bioquímica e Toxicologia.

A medicina, do ponto de vista de Paracelso, deveria tratar o corpo e alma como elementos indissociáveis, portanto ambos deveriam ser tratados e deveriam estar em harmonia. E viver harmoniosamente é viver de acordo com o Verdadeiro Eu.

Exímio cabalista, segundo ele, a cabalá nos permite acesso ao oculto, aos mistérios; ela nos capacita a entender as epístolas e os livros cifrados, e da mesma maneira, a natureza íntima do ser humano.

As obras de Paracelso incomodaram profundamente a visão da Igreja Católica e por toda a Europa, principalmente na Alemanha.

Outros vieram com o pensamento reformador, em combinção com as antigas ideias de John Wycliffe, como Brethren (seguidor de John Huss) e ampliaram a mensagem de uma mudança no pensamento eclesiástico, assim, os conflitos históricos, religiosos e sociais escalaram até explodir com Martinho Lutero em 1517 ao afixar suas 95 teses contra o abuso das indulgências no castelo de Wittenberg.

Principais características da Reforma Protestante

Os princípios fundamentais extraídos da Reforma Protestante são conhecidos como os Cinco Solas (Sola, vem do latim e significa “somente”):

  • Sola Fide (somente a fé): o homem é justificado única e exclusivamente pela fé.
  • Sola Scriptura (somente a Escritura): as Escrituras são o fundamento da teologia reformada.
  • Solus Christus (somente Cristo): a mediação entre o homem e Deus é feita somente por Cristo, único capaz de salvar a humanidade e o tema central da reforma protestante.
  • Sola Gratia (Somente a Graça): a salvação é inteiramente condicionada a ação da graça do altíssimo, ou seja, só a graça através da regeneração unicamente promovida pelo Espírito Santo, em conjunto com a obra redentora de Cristo.
  • Soli Deo Gloria (somente a Deus a glória): o homem foi criado para a glória do criador e que tudo que ele fizer deve destinar a glorificá-lo.
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Lutero foi apoiado por várias ordens, religiosos, príncipes e governantes provocando uma verdadeira revolução, iniciada no Sacro Império, estendendo-se pela Suíça, França, Países Baixos, Inglaterra, Escandinávia e Leste Europeu.

A resposta da Igreja Católica Romana foi o movimento conhecido como Contrarreforma ou Reforma Católica, iniciada no Concílio de Trento.

Isso conduziu a uma longa e violenta série de conflitos entre os partidários da velha e da nova ordem, transformando profundamente o ocidente e originando o protestantismo.

Foi possível perceber que os principais influenciadores dos movimentos rosacruzes estiveram interligados com os acontecimentos que desencadearam na Reforma Protestante.

Mas e o momento do Pós-Reforma? Como ficou o pensamento esotérico alemão?

Acreditar que o sofrimento faz parte da situação atual e que um momento melhor virá em um futuro próximo é um padrão histórico e uma forma que as pessoas buscam para encontrar conforto em tempos conturbados.

E se existiu um momento muito conturbado foi o período do Pós-Reforma com as profecias pansóficas que são ainda mais conectadas com o pensamento Rosacruz, mas isso é assunto para outro artigo.

Saiba mais sobre quem são os rosacruzes.

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