A base da filosofia ocidental como uma forma documental de observação do natural tem origem na Grécia Antiga por volta dos séculos V e VII com os filósofos pré-socráticos.
Eles foram os primeiros a questionar o mundo ao redor, ao invés de aceitar tudo como uma manifestação divina, passaram a buscar explicações mais racionais sobre o universo e a humanidade.
O que é o pensamento pré-socrático?

O pensamento pré-socrático trata da filosofia da natureza, ou seja, os pré-socráticos questionavam basicamente sobre como a natureza poderia ser apontada de forma matemática e objetiva a fim de entender todo o seu contexto natural.
Sabe aquele estalo na mente de que pode existir algo a mais? De que tudo deve ter uma explicação, que deuses não são a única explicação para o universo.
O pensamento pré-socrático foi o primeiro modelo filosófico que conhecemos capaz de investigar o que poderia haver por trás das cortinas divinas do destino.
Enquanto a mitologia grega explicava o universo por meio da cosmogonia, a gênese do nascimento por intermédio dos deuses, a filosofia pré-socrática buscava a cosmologia, uma explicação do universo baseada na lógica e razão (logos). Assim, saem os deuses de campo para dar lugar à natureza na compreensão sobre a origem do universo.
Por que pré-socráticos? Quem os nomeou assim?

É meio óbvio e qualquer ameba consegue entender que pré-socrático significa antes de Sócrates, o filósofo. Mas há uma “pegadinha” aí.
Essa divisão propriamente se dá mais devido ao objeto de estudo, em relação à novidade introduzida posteriormente por Platão, do que à cronologia já que alguns dos pré-socráticos vieram depois de Sócrates.
A classificação pré-socrática como conhecemos atualmente, incluindo o uso desse termo, só ficou popularizada mesmo em 1903 pelo estudioso alemão Hermann Diels.
Diels era filólogo e historiador da filosofia. Rotular estes filósofos desta forma, como pré-socráticos, foi uma forma inteligente de classificá-los de acordo com seus princípios e ideologia.
Ou seja, o termo pré-socrático diz mais sobre a filosofia natural das coisas do que o período anterior a Sócrates por si só.
As escolas pré-socráticas mais importantes

Se juntássemos todos os pensadores pré-socráticos numa mesma mesa para jantar provavelmente eles não chegariam num consenso sobre o que comer e tampouco sobre o que beber.
Neste conteúdo, uso como base a lista do professor Forrest E. Baird. Ele escolheu os principais nomes que aparecem aqui, destacando aqueles que contribuíram para a cultura grega, influenciaram Platão, Aristóteles e as principais religiões, e ajudaram a moldar o pensamento ocidental.
Salvo Parmênides e Zenão de Eleia, ninguém defendia as mesmas ideias. Era mais comum que um pensador criticasse duramente o pensamento dos filósofos anteriores mesmo que substituísse um “seis por meia dúzia” apenas para não dar o braço a torcer.
Mesmo assim haviam similaridades e particularidades capazes de permitir que agrupemos alguns destes pensadores pré-socráticos em escolas para ficar ainda mais simples de entendermos estes pensadores.
Escola de Mileto
Foi na cidade de Mileto, próximo do que hoje é a Turquia, que tudo começou com 3 dos mais importantes pensadores.
Tales de Mileto (624-546 a.C.)

Aristóteles afirmou que Tales de Mileto foi o primeiro a perguntar “Qual é a ‘matéria’ base do universo?”. Isso já demonstra a preocupação de Tales em buscar descobrir sobre algo além do que se vê.
Foi Tales quem afirmou que a água passava por mudanças como a evaporação e a condensação (gasosa ou sólida).
Segundo o grande filósofo de Mileto, a arqué (o elemento original de tudo) era a água. Ou seja, ele dava um banho!
Anaximandro (610-546 a.C.)

Outra grande mente de Mileto foi Anaximandro, mas este não batia muito com as ideias de Tales não, muito pelo contrário.
Segundo Anaximandro, o elemento original de tudo não era a água, mas algo ilimitado na natureza conhecido como ápeiron (o ilimitado, sem limites, infinito ou indefinido).
Na visão do filósofo, era uma força criativa eterna capaz de trazer coisas à existência de acordo com um padrão natural estabelecido, destruindo-os e recriando-os em novas formas.
Nenhum elemento natural poderia ser a Causa Primeira, em sua visão, porque todos os elementos naturais devem ter se originado de uma fonte anterior. Uma vez criadas, ele afirmava, as criaturas evoluíam para se adaptar ao ambiente e, por isso, ele sugeriu a Teoria da Evolução mais de 2.000 anos antes de Darwin.
Segundo Anaximandro, por meio do ápeiron que os opostos como o quente e o frio, como o seco e o úmido se separavam um do outro dando um esboço do princípio da dualidade.
Ele também foi o primeiro filósofo conhecido que deixou conteúdos por escrito.
Anaxímenes (585-528 a.C.)

Mais um filósofo com nome de remédio genérico, mas de grande importância para o mundo ocidental.
Anaxímenes foi o último dos grandes filósofos pré-socráticos da Escola de Mileto.
Segundo ele, todos os outros estavam errados e o único elemento que realmente importava sendo o responsável por tudo era o ar.
Foi ele quem observou que o ar é capaz de se transformar em outras coisas, como água, nuvens, vento, fogo e terra.
Você até pode achar que ele pirou na batatinha, mas o seu pensamento tinha uma certa lógica, já que por rarefação, o ar se torna fogo e, por condensação, o ar se torna, sucessivamente, vento, água e terra.
Com diferenças qualitativas observáveis (fogo, vento, água, terra) são o resultado de mudanças quantitativas, isto é, de quão densamente compactado é o princípio básico. Viu só? Essa visão ainda é mantida por cientistas.
Qualquer semelhança com a alquimia do ponto de vista hermético não é mera coincidência.
A definição de ar de Anaxímenes e suas mutações sugeria uma Causa Primeira que definia a vida como um estado constante de fluxo, de mudança. À medida que o ar se tornou rarefeito ou condensado ou assim por diante, ele mudou de forma; então, a mudança era um elemento importante da Causa Primeira.
Escola Pitagórica e Pitágoras (570-497 a.C.)

Fique tranquilo que não falaremos do teorema desta figura que, pode acreditar, foi um dos seres mais iluminados que já caminhou sobre o terreno planetário.
Os conceitos de Pitágoras foram desenvolvidos a partir de ideias egípcias, principalmente do conhecimento proveniente das escolas de mistérios, mas ele os retrabalhou para torná-los distintamente seus.
Ou seja, ele criou uma própria escola de mistérios, a Sociedade Secreta de Krotona, isso merece um artigo exclusivo, pode me cobrar!
Segundo a Escola Pitagórica, a alma humana é imortal, passando por muitas renascimentos diferentes, em diferentes estados do Ser. Esse conceito de Transmigração de Almas influenciou muito a crença de Platão a respeito do renascimento.
Ele acreditava que a base de toda a realidade estava contida nas relações lógico-matemáticas e tudo poderia ser calculado. Tudo mesmo, desde a melhor época para a colheita até a data de nascimento de um próximo mestre.
Eram objetivos da Escola Pitagórica:
- Manter e proteger todo o conhecimento humano disponível;
- Desenvolver pesquisas nas áreas de Medicina, Higiene, Astrologia/Astronomia, Esoterismo/Exoterismo, Arquitetura, Música, entre outras;
- Promover o ensino e a difusão da cultura, visando o progresso da cidade de Krotona e o bem-estar da Humanidade.
Escola de Éfeso e Heráclito (535-475 a.C.)

Quem puxava a carroça na Escola de Éfeso era Heráclito de Éfeso, o “protegido por Hércules”!
Segundo ele, tudo na natureza está em constante mudança (Panta Rhei), tudo se transforma (Sim, ele foi uma grande influência para Lavoisier num futuro bem distante).
Foi ele quem disse aquela famosa frase “Nenhum homem é capaz de entrar no mesmo rio por duas vezes“, aludindo ao fato de que tudo, sempre, está em movimento e a água do rio muda a cada momento, assim como a vida.
Para Heráclito, a existência foi trazida à existência e sustentada por um choque de opostos que continuamente encorajava a transformação (dia/noite, verão/inverno… o velho conceito de dualidade), de forma que tudo estava sempre em movimento e em estado de mudança perpétua.
Luta e guerra, para Heráclito, eram aspectos necessários da vida, pois incorporavam o conceito de mudança transformadora. Resistir a essa mudança significava resistir à vida; aceitar a mudança encorajaria uma vida pacífica e sem problemas.
Heráclito também acreditava que o elemento original de tudo era o fogo, por isso ficou conhecido como o Filósofo do Fogo.
Escola Eleática
A cidade de Cólofon foi campo fértil para importantes filósofos pré-socráticos, vou citar dois dos mais importantes:
Xenófanes (570-475 a.C.)

O conceito de uma alma eterna sugeria alguma força governante que a criou e para a qual aquela alma voltaria um dia após a morte.
Pitágoras incluiu esse conceito em seus ensinamentos, que enfocavam a salvação pessoal por meio da disciplina espiritual, mas não define o que é essa força. Mais tarde, Xenófanes preencheria essa lacuna com seu conceito de um único Deus e a base do monoteísmo.
Existe um deus, entre os deuses e os homens o maior, nada parecido com os mortais no corpo ou na mente. Ele vê como um todo, pensa como um todo e ouve como um todo. Mas sem esforço, ele põe tudo em movimento com o pensamento de sua mente.
Xenófanes
O monoteísmo de Xenófanes não encontrou nenhum antagonismo por parte das autoridades religiosas de sua época porque ele expressou suas afirmações em poesia e aludiu a um único deus entre outros, que poderia ser interpretado como Zeus.
Parmênides (510-440 a.c.)

Parmênides acreditava que somente pela razão, descartando os sentidos, era possível chegar à verdade.
Segundo ele, a mudança é uma ilusão; as aparências mudam, mas não a essência da realidade que é compartilhada por todo ser humano. Aquilo que experimentamos e tememos como “mudança” é ilusório porque todas as coisas vivas compartilham da mesma essência.
Ele não acreditava que os primeiros filósofos de Mileto estavam apenas equivocados, mas que eles partiam de premissas erradas.
Parmênides foi muito importante para Platão já que ele visava debater “o que existe”, considerava a única verdade, deixando de lado “o que não se sabe se existe ou não”. É a base do uso da razão puramente dita.
Escola atomista de Leucipo e Demócrito (460-370 a.C.)

Leucipo é mais conhecido por afirmar que nada acontece ao acaso; tudo acontece fora da razão e por necessidade.
E apesar da Escola Atomista ter sido iniciada por ele no século V a.C., foi seu aluno mais brilhante, Demócrito, quem elevou a fama da escola para outro patamar.
Foi Demócrito, influenciado por seu mestre, quem propôs que todo objeto físico fosse composto por átomos e o vácuo (espaço nulo por onde os átomos se movem).
E por incrível que pareça, essa ideia não é assim lá tããããão distante do conceito atual de átomo que temos em 2021.
Na visão do “filósofo que ri”, como Demócrito ficou conhecido, os átomos se reúnem para formar o mundo observável, mas os próprios átomos são de uma substância, imutável e indestrutível; quando uma forma que assumem é destruída, eles simplesmente assumem outra.
Uma vez que o universo é composto de átomos e átomos são indestrutíveis e mudam continuamente de forma, e os seres humanos são parte desse processo, a vida de um indivíduo é conduzida por forças fora do seu controle.
E com esta reflexão sobre o livre arbítrio (sacou?) encerramos este conteúdo sobre os principais pensadores pré-socráticos.
Espero que o material tenha servido para a sua reflexão e aprendizado, afinal de contas, a Filosofia pré-socrática é mais que útil hoje, amanhã e sempre será fundamental para o autoconhecimento.
Recomendo também a obra de Jonathan Barnes sobre os Filósofos Pré-Socráticos caso queira se aprofundar no assunto.
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